terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Globo local

Eu tenho um cobertor na cama

Em pleno sertão

Como um adereço

E na preguiçazinha

Das tarde quentes

Penso

Óculos

Revistas

Cama

Computador

A tv está ligada

E as seriguelas

No quintal

Pergunto

Quem então

Me faria mal?

domingo, 26 de dezembro de 2010

Repetição II

Os melhores versos são os que não foram escritos

Que, perdidos na janela

Do ônibus

Voou

E se a memória não os alcançou

É porque o ar

Melhor os guardaria

E no fundo do fundo

Um poeta escreve as mesmas coisas

Que diferença faria?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E que vivam os ambulantes!

A pipoca encontra-se

na mesma classe

Da jujuba

e avoador

Poderia dizer que até

do algodão-doce

Mas seria equívoco:

pois, se doce

enjoa

Se enjoa

Não pode pertencer

.

À classe

Da Jujuba

Avoador

Pipoca

Classe inventada pelos publicitários,

Digo

.

Da fome interminável-insaciável

Do não-sossego

Do “tenho que pôr fim à angústia e descobrir o fim”

Do pacote

Que enorme

Nos entope

O coração é mais brega que o amor

A palavra “coração” é brega. Digo isso porque, pensando em escrever o verso “eu queria achar a saída de emergência do meu coração” e encaixá-lo em alguma estrofe, fui impelida a descartar a ideia. Não pude continuar. Culpei o coração.

Coração (ao menos a palavra) é brega, e tende a rimar com emoção, compaixão, doação, solidão, ilusão, canção, samba-canção (!). Tesão? Não, coração é tão brega que não rima com tesão. O amor não, ele é até bonito. Amor rima com ardor, ou mesmo com pensamento ou silêncio. O bonito do amor é que ele é independente, não se prende a rimas mesquinhas.

Diante do dito, façamos bom uso do coração.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Repetição

Um poeta se repete

Como o pôr-do-sol

As mesmas palavras

O mesmo ritmo

O mesmo poeta

Perplexo

Ao ver o sol se pôr

Dis Torcida


Transferência de responsabilidades

Expectativas similares

Esperança

....................Doce

Ilusão

O café na cama

A roupa no chão

A doce

ilusão.

Não existe mentira

ou verdade

É tudo questão de vaidade

ou expectativa

Dis

.............torcida

De

.............torcida

Do coração

Torcido

Que turbeculoso,

De tanto amor,

tosse.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Cres-Cer

Decretando incompetência
Seguem os dias
De trabalho
Árduo
Na segunda, um golpe
Mais que isso
Só um gole
De cerveja
de serviço
de certeza
que ser isso
é cres
Cer

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Madalena


Ela chorou quando bateu o telefone
E disse adeus
Ela sentiu a dor eterna
Mesmo que o eterno não se sentisse
Ela doou todos seus livros
E preferiu partir sozinha
Partida pelo meio
Pelo meio que partiu

Versos diversos


Se todo sentimento fosse transformado em poesia
A minha casa cercada estaria
Por toneladas
de versos
diversos.
E se minha vida fosse um filme
eu não teria o papel principal
Assim ela seria plasticamente mais bela
E pode ser que encontrasse cinderelas
na mesa de um bar

E se eu tivesse?

Eu nem tenho quinze anos
pra fazer algazarra em shopping
E nem tenho vinte anos
pra dizer adeus sem olhar pra trás
Nem tenho
Penso apenas
Em ter

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sem culpa, pecado ou perdão

O problema do pecado
É a culpa
Toda religião diz que pro perdão
Arrependimento é preciso
Mas sem culpa
Não há arrependimento
Não há pecado
Sem pecado
Pra que perdão?

Desafino, desatino

Eu prefiro as mensagens não respondidas
Para a desilusão reinar
Que conforto é não ter as preces atendidas
Pra não precisar fazer gestão dos seus processos
Pra não precisar pagar impostos
Nem pedir empréstimos.
As mensagens não respondidas são as melhores
Faz esquecer que as enviamos
E é preferível não misturar as coisas
De novo
Nosso amor agora é unidirecional
Não tem resposta
Não entraremos na orquestra novamente
Seria equívoco
E não precisamos de migalhas

Meu eu doentio

Meu amor,
Me dê um beijo
E eu esqueço
Tudo que fez.
Como num deserto
Esqueço o inverno
E o inferno que foi
Sem ti.
Meu amor,
Antes de tudo
Queira voltar
Queira desesperadamente voltar
E então me peça:
"Go back, baby!"

Flerte

Que saudade dos joguinhos de amor
Dos sorrisos furtivos
Do cabelo jogado
Em olhares furtivos.
Que saudade da falsa casualidade
Da falsa bondade
De dizer coisas
Por dizer.
Saudade desse negócio de mão no cabelo
De olhar desviado
E sorriso furtivo.
Que coisa instigante é esse quer-não-quer
Esses elogios sem motivo aparente
Esse longo caminho antes do finalmente
Que felizmente
Tarda por vir.

sábado, 30 de outubro de 2010

Nota de rodapé

Sempre acreditei que estava imune a bala perdida, doença grave, tempestades várias e assalto a mão armada. Foi então que "o amor me pegou, puro e verdadeiro".

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sem motivos para poesia

Dentro de mim não havia motivos pra poesia
Eu sou prosa
crônica
sou prolixa
falo alto
Não possuo o dom dos intimistas
que guardam para si tons impressionistas
Não sei cortar as palavras
para provocar melhores efeitos
Eu sou das frases reiteradas
Dos efeitos prontos
E ultimamente é que não havia motivos pra poesia
Nenhum abalo sísmico em mim
nenhuma perda
nem reencontro
nem feridas
Apenas algo morno como cicatrizes
Apenas a dúvida:
morna vida é vida morta?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Fita o passado

A fita do Senhor do Bonfim rasgou
Os pedidos realizariam-se hoje
Talvez à noite
Eu os esperasse sentada
Discretamente arrumada
Como quem espera um romance
a cada olhar.
O momento é mágico
Como esperar desejos antes sonhados
no passado?
Imagino desconhecê-los
enquanto desconfio de suas causas
e efeitos
Hoje os pedidos não se justificariam
sua realização é nula
retrocesso
contra-senso
A fita do Senhor do Bonfim acusa o passado
de infame
tolo
despropositado
enquanto o define gigante
Esperarei a queda das outras fitas
pra descobrir que no futuro
o passado não importa

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A mudança

Mudanças me desestabilizam
Gêmeos que sou
Elas me agradam
E em meus cabelos se agarram
pedindo para que as adote
as tome posse
Sempre inconformadas
Quando longe de mim.
Então eu sorrio largamente
Visto-as prontamente
E as incorporo quase que de imediato
Mas o que as mudanças não sabem,
talvez seja até segredo de estado,
É que elas me desestabilizam
E se em mim ficam
É porque, por mais que resista,
A mudança sou eu

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Outubro

Outubro estava próximo
O sol queimava-me
Desbotava-me
Como a uma flor.
Sem dúvidas, outubro chegaria.
Adorava pensar que o tempo passava rápido demais
Pra precisar marcar na folhinha
Os dias santos.
Se outubro viesse,
É possível que até Natal tivesse
Esse ano
Longe demais das capitais.

domingo, 26 de setembro de 2010

Juazeiro

Ó, minha Juazeiro!
Se eu pudesse falar no teu sotaque
O dia inteiro
Eu zombaria,
É bem verdade,
Mas me encheria
De uma tal alegria
Nunca vivida
Por nenhum litorâneo
Dito soteropolitano

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pausa

Pensei em fazer uma tatuagem na nuca
Comprar um All Star vermelho
Óculos escuros
E vestidinho da loja bonita.
Pensei em viajar pro sertão colorido
Ouvir música ruim
Entrar em aulas de dança
E beijar o menino bonito.
Pensei em comprar milhares de livros
Ser famosa
Aprender inglês
E ter outros bonitos vestidos.
Aí já era tarde,
Eu estava cansada
E fui dormir.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sabe como é

Vou me magoando um pouco por dia
Em dias alternados.
Sabe como é,
O coração é fraco,
Doente
Não aguentaria doses extras
De amor

sábado, 18 de setembro de 2010

Eu, aflito e só

Olhar o nada
Através da janela do ônibus
Ver tudo
Dentro de mim

Sexta

Sexta cheira à cerveja
Que eu não bebo
Cheira a ralo
a vômito
à privada
Que eu não cuspo
Sexta cheira a cigarro
Que eu não trago
Não, não trago
Nem no bolso, nem no carro
- Cheiro a perfume,
muito obrigado!
Sexta cheira a sorrisos,
às vezes falsos
Cheira a desculpas esfarrapadas
A viagens não-planejadas
Já minha sexta cheira a sono
Cheira a pijama
A conforto
E remédio antes de dormir

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Enfin, veuve!

Me peguei sorrindo às dez da noite de um dia cansativo. Pensei não ser eu. Mas ontem mesmo, antes de dormir, já havia sentido essa pequena felicidade, daquelas em que se fecha os olhos e sorri quando o vento entra pela janela. Anterior a isso, no entanto, foi a tarde, em que as músicas bonitas quase me fizeram sair dançando pela rua agitada, me alegrando mesmo na infeliz espera por um ônibus fantasma. Que passou às sete e, hoje, às seis e meia, deixando entrar as mesmas músicas bonitas. Na cabeça. Porque no rádio, apenas A Voz do Brasil ontem e, hoje, músicas quaisquer.
Ai! Como de costume, me peguei sorrindo. Parece que ouvi alguém gritar: "enfin, veuve!".

Borboletas não voltam

Você não era Eduardo e eu, Mônica?
"O que aconteceu?", eles perguntam
Você se esqueceu que é proibido descumprir promessas feitas a crianças
Talvez já soubesse que as crianças crescem
E viram borboletas
"E que borboletas lindas!", eles dirão

O Medo Dele

Você tem medo
Eu vejo isso em teus olhos, agora invisíveis
(eles são os mesmos de sempre, eu sei).
Você se esconde por trás da indiferença
E de cobertores, hoje frios.
Você tem medo.
Mas por que, se sabe que ainda posso te contar histórias antes de dormir?
E cantar canções, se você preferir?
Não precisa temer
Ainda longe, posso cuidar de você
Mesmo que em outras conexões
Entre outras mídias
Porque eu não consigo existir de outra maneira.

O encontro que não houve

Quando se encontrarem as guerras acabarão,
Os moços ciumentos conhecerão a confiança,
As mães esquecerão a preocupação.
A menina vai sorrir o dia inteiro, vai pular em seus braços
Quando você chegar
A menina vai encolher de amor,
Com os olhos pequenos de ardor
Vai vestir seu vestido mais florido
E dizer coisas sem pensar - ai! a menina sempre diz coisas sem pensar

Mas se o se aparecer na poesia
E você não vir, fingindo que não sabia
O vestido se manchará de vermelho,
A menina, de branco
Pálida, pálida, vai chorar o dia inteiro

2008

Passado

Quando eu ouço histórias bonitas eu lembro de você
Aquelas confissões de outras meninas parecem minhas
Aquelas experiências compartilhadas dizem muito de nós dois.
E quando eu ouço histórias que não deram certo
Eu lembro de você
De um lado, o medo que o drama se repita com outros atores
De outro, a segurança de que nosso amor está preso em árvores de raízes profundas (ufa!)
Os amores são únicos, dizem elas
Mas, se você troca as datas, as histórias são as mesmas
(E ele não liga
Ele não atende
Não é paciente
É tão previsível!
Não se desculpa
E aponta a culpa
Ele tá cansado e sempre ausente
Para conversas urgentes)

Julho/2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Gauche na vida

A vontade de criar um blog era latente. Eu carrego comigo a vontade de escrever, ou melhor, a vontade de escrever bem. Mas é como se as palavras se embaralhassem na minha cabeça e brincassem comigo, não permitindo que as tocasse e arrumasse. Durante muito tempo foi assim, o que apenas me proporcionou a escrita em outros blogs, onde não tenho a preocupação de ser constante. Agora me desafio a disciplinar as palavras e me auto-disciplinar em torno desse blog solitário. Algumas vezes ele não será alimentado, afinal, a correria diária nos afasta dos pequenos prazeres. Como temas principais aqui, estarão os caminhos e descaminhos da vida. Os descaminhos serão mais frequentes, afinal, quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: "vai, Jana! ser gauche na vida!"